Escola Duque completa 170 anos de histórias

Jornal Opinião

Vamos voltar, por um momento, ao passado. Sapiranga ainda não tinha esse nome, era apenas o 5º Distrito de São Leopoldo e os alemães passaram a chamá-lo de Leoner-Hoff, em função das terras se localizarem no Padre Eterno, do Tenente Leão, a Fazenda Leão. Pouco antes da sua emancipação, a localidade já era conhecida como Vila Sapiranga.
Em 1º de julho de 1850, havia 75 casas onde moravam 389 pessoas, sendo 265 evangélicos e 124 católicos, 1 era escravo. Havia 1 escola, 1 professor e 31 alunos, das primeiras séries, todos estudando juntos na mesma sala de aula, quer dizer, no mesmo espaço de um galpão, emprestado por um colono. O professor Lúcio Fleck dizia que não era bem um galpão, era uma palhoça. Então podemos deduzir que não havia paredes por todos os lados. Mais do que isso, não havia um assoalho nem cadeiras e mesas, era no chão batido que se sentavam os alunos. O professor não tinha um quadro para ensinar suas lições e os alunos não tinham um caderno. Mas aprendiam a ler e calcular. No início, liam a Bíblia, tinham aula de Catecismo e faziam cálculos de quantidades de cereais e alimentos e seus valores. Nos finais de semana, as famílias evangélicas faziam dessa palhoça sua igreja para a leitura da Bíblia e o canto de hinos, pois não havia pastores.
Tente imaginar a cena da chegada desses alunos para as aulas, saindo de várias picadas, ou trilhas no meio da mata, não havia estradas abertas: quase todos sem calçados, com os pés descalços, com roupas provavelmente esfarrapadas, pois a maioria possuía apenas uma ou duas peças de roupa; sem mochilas, mas trazendo um pedaço de pão de milho com geleia para fazer seu lanche durante o recreio. A Foto nº 2, que é de 1900, mostra que a realidade nesses aspectos ainda não havia mudado muito. Todos os alunos estão de pés descalços.

Foto Nº 2 – Alunos em frente à Escola, em 1900, na Av. João Corrêa, 1413. Foto mais antiga do acervo da escola.


Tudo começou na Av. João Corrêa, nº 222, nas proximidades da Paquetá Calçados, onde existiu por muito tempo a Fábrica de Calçados Orquídea. Não houve uma cerimônia de inauguração da escola, nem mesmo um protocolo ou uma ata de fundação. Não há fotografias dessa época. Não se sabe ao certo o dia de seu início, mas se sabe que foi no primeiro semestre de 1850.
Para essas famílias, o que importava era que havia uma escola, ou melhor, uma Associação Escolar (Schullverein). Isso mesmo, uma associação de pais que organizou e manteve a escola nas suas primeiras décadas. Bem diferente de hoje em dia, quando se quer que o governo coloque uma escola em frente às nossas casas, os imigrante alemães, em mutirão, construíam uma sala de aula, contratavam um professor e mandavam seus filhos para a escola.
A escola ficou ali por dez anos e foi junto com a igreja para o outro lado da rua e do riacho, pois durante este tempo as enchentes estragavam o pouco que haviam construído. A segunda localização da escola, a partir de 1860, passou a ser então a Av. João Corrêa, 409, no terreno onde morou o ex-prefeito Waldomiro dos Santos (o Nenê Santos), permanecendo ali até 1880. Até aqui não há nenhum registro fotográfico, mas podemos imaginar que, em alguns aspectos, havia uma melhora, ao menos para algumas famílias, conforme a Foto nº 1.

Foto n° 1 – Desenho da Casa de Jacob Schmidt, em 1874, do livro O Episódio do Ferrabraz – Os Muckers, de Leopoldo Petry.


Em 1880 a associação escolar e a igreja resolveram construir um prédio escolar, separado da igreja, na Av. João Corrêa, 1413, onde hoje está localizado o Banco Itaú, permanecendo ali até 1951. Na Foto nº 3, todos os alunos estão com os pés calçados, mostrando uma melhora geral nesse aspecto.
Foi somente em 1951 que a Escola Duque passou a se localizar onde hoje está, na Av. João Corrêa, 1364. A Escola Duque e a Av. João Corrêa se desenvolveram e cresceram juntas. Mas a escola não parou de crescer e também possui a Unidade Infantil, no Bairro São Jacó, e o ginásio esportivo, na Av. Mauá, 1120. Para visualizar um pouco disso, pode-se acessar o vídeo comemorativo em:

https://www.facebook.com/duque.g12.br/videos/624587541509734/?eid=ARAlS_pP2vIlybN_mqgfezApWW4qppg1Dn4wkZTyEUDdTcEiNrf75OHZH-qkeczOz6ktB4_17Y9gH74m

Atualmente, em julho de 2020, em tempos de pandemia de Coronavírus, quando a grande dificuldade é a ausência da rotina regular das aulas, pois estão suspensas presencialmente há mais de cem dias, é oportuno recordar que essa escola nasceu em meio a tremendas dificuldades e limitações de toda ordem. Certamente esse novo período de dificuldades não será obstáculo para projetar e sonhar com um futuro de esperança, de dedicação, de carinho e de pujança que marcaram as gerações anteriores, especialmente a primeira, que arregaçou as mangas e construiu um projeto que dura 170 anos, a partir daquele primeiro semestre de 1850. Vida longa à Escola Duque!

Foto Nº 3 – Alunos e professores em frente à Escola, em 1942, na Av. João Corrêa, 1413. No canto inferior direito, a segunda mulher diretora da escola – Ecilda Niederauer.

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