Arti Adolfo Hugenthobler contou a história de Sapiranga

Sapiranga perdeu uma grande figura que conheceu a história de Sapiranga como ninguém. Arti Adolfo Hugenthobler se despediu de Sapiranga aos 95 anos de idade neste mês de fevereiro. O Jornal A Opinião teve ao longo da sua história a honra de entrevistá-lo e compartilhar fatos históricos da cidade em vários momentos. Vamos retratar aqui parte de uma entrevista feita em 2009 onde Arti fala sobre a emancipação de Sapiranga


O Jornal A Opinião entrevistou o Senhor Arti Hugentobler que é livreiro desde 1943, fundou a Casa Globo em 1956 e foi vereador pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) por duas gestões, 1969 à 1972 e 1977 à 1980. Atualmente Arti é proprietário da Livraria Presencial e um dos grandes estudiosos da cultura mundial e em especial de Sapiranga. Quando da emancipação era jovem e acompanhou diversas reuniões no bar do café Cinelândia.

Opinião: Sapiranga está comemorando seu aniversário de emancipação, o que o senhor pode nos contar a respeito?

Arti: Inicialmente permito observar que o “nascimento” do nosso Município ocorreu em 15 de dezembro de 1954 quando a Lei de sua criação foi sancionada pelo Governador Coronel Ernesto Dornelles e Sapiranga deixou de ser distrito de São Leopoldo. Posteriormente foram eleitos o Prefeito, vice-Prefeito e Vereadores cujas posses efetuaram-se em 28 de fevereiro de 1955.

Opinião: Por que foi optado por comemorar a segunda data?

Arti: Foi uma decisão política local.

Opinião: Qual o motivo dessa decisão?

Arti: Haviam acentuadas questões políticas entre o PTB e os partidos que haviam se aliado e vencido a eleição. E, quando o Governador Ernesto Dornelles – que era PTB- sancionou a Lei de emancipação no respectivo documento precisou constar também as assinaturas dos Secretários, entre eles Leonel Brizola que na ausência de um colega Secretário assinou em nome deste. Assim a assinatura de Brizola consta duas vezes no referido documento. Então, por ocasionais impulsos partidários alguns setores influentes da coligação vencedora da eleição não desejavam destacar nas comemorações o histórico documento por conter notadamente duas assinaturas de Brizola e do próprio Governador ambos do PTB.

Opinião: Em sua opinião, comemorar a data de emancipação em 28 de fevereiro é ilegal?

Arti: Não, pois, no caso a decisão do lado vencedor é uma concessão da democracia – que afinal não é perfeita – e não invalida eventual comemoração da data da emancipação de Sapiranga ocorrida em 15 de dezembro de 1954.

Opinião: Houve alguma tentativa anterior de emancipação de Sapiranga?

Arti: Não, tentativa propriamente não. Mas, não se pode deixar de registrar um ato do Senhor Bertholdo Seibel, que era inteligente e por isso às vezes invejado. Por sua vez, era irreverente e irônico, e por tudo isso sabia que sua de idéia de um movimento pela emancipação não teria apoio. Sustentava que dezenas de municípios do Rio Grande do Sul não tinham as condições que credenciavam o Distrito de Sapiranga a pleitear sua emancipação. O Sr. Seibel tinha uma letra muito bonita e um dia pegou uma folha de papel que envolvia um “pão francês” redigiu o cabeçalho de um “abaixo-assinado”, exibindo sua condição de calígrafo, visando demonstrar que sabia como se deveria fazer. Isto foi uns dez anos antes do início do movimento que redundou na emancipação. Eu vi este seu abaixo-assinado, pois o Sr. Bertholdo era pai do meu amigo, dr. Helio Darcy Seibel, e fez questão de mostrar-me, não sem fazer um comentário felino sobre os motivos pelos quais sua idéia não era levada a sério.

O que foi pretendido não foi absolutamente emancipar Sapiranga, queriam era deixar de ser distrito de São Leopoldo para ser anexado a Novo Hamburgo.

Opinião: O senhor teve participação no movimento de emancipação?

Arti: Não, pois, de 1953 até 1956 trabalhei em Porto Alegre, além disso os jovens em geral não tiveram participação exponencial. Entretanto, em dois momentos, um quando ainda não havia nenhuma mobilização, emancipacionista e outro quando estava em curso o movimento, eu contribui, digamos ideologicamente, em favor da causa; pois fui um dos sócios fundadores do CTG Pedro Serrano onde a idéia da emancipação foi semeada desde as primeiras reuniões da então “Assembléia Churrasqueira” que, passando pela fase intermediária da denominação de “Pai João”, redundou na atual denominação de Pedro Serrano. Nestas reuniões iniciais os principais menores da emancipação eram: João Edmundo Mohr, José L. Nogueira e Mário Caminha que eram funcionários da Exatoria Estadual local, localizada em frente ao restaurante Cinelândia onde realizavam-se as reuniões. Eu e minha mãe residíamos nas imediações e quase diariamente eu falava como Sr. Mohr que era meu cliente de livros e da revista “Seleções” que na época eu vendia. Portanto, posso assegurar que conheci bem o objetivo emancipacionista do Sr, Mohr, pois ele não tinha apenas preocupação pelo desenvolvimento econômico de Sapiranga, ele já havia cultivado a idéia tradicionalista gaúcha e estimulado a prática do enxadrismo, da filatelia e de um centro orquidófilo. Aliás, a orquidofilia em Sapiranga registra fatos surpreendentes, os quais deveriam ser mais pesquisados, pois encerram fatores culturais muito positivos para nossa História, podem crer.

Em resumo, as reuniões mensais, comemorando aniversários dos participantes da “Assembléia Churrasqueira” efetuadas no Cinelândia transformaram-se em trampolim para a formação do CTG Pedro Serrano, cujo nome foi escolhido pelo Sr. Mohr, pois o MTG não aceitou o nome de Pai João.

Outra curiosidade da época foi a união de jovens para criar um clube de futebol em plena campanha de emancipação ao qual dei o nome de “AUTONOMIA”. O jornal O Ferrabraz noticiou na época que foi uma manifestação de solidariedade dos jovens ao movimento emancipacionista.

O clube surgiu porque o Sapiranga Futebol Clube não apostava nas categorias de base (na época poucos clubes apostavam nessas categorias). Depois outros clubes foram criados como o DAER, Brasil e o Sapiranga chegou a vice-campeão Estadual (no seu auge) e depois entrou em declínio.

One thought on “Arti Adolfo Hugenthobler contou a história de Sapiranga

  1. Muito interessante essa matéria é que aula de história sobre nossa cidade nessa entrevista e nos dava sempre o Senhor Arti que nos deixou a poucos dias , no auge dos seus 95 sempre de bom humor é muito simpático . Vai fazer muita falta …

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